Para qualquer miúdo que tinha 12 anos no verão de 1998, é inegável que o acontecimento que marcou esse ano foi a exposição mundial que ocorreu em Lisboa, mais conhecida como Expo 98. Ora... o que era a Expo 98? Para ser sincero, na altura nem sabia bem do que se tratava. Apenas achava piada aqueles pavilhões todos e a quantidade de gente que andava sempre dentro do recinto. De qualquer forma, a Expo 98 marcou a minha infância/juventude pelos 5 dias de descoberta e aventura que vivi e por ter sido a minha primeira grande experiência na cidade de Lisboa.
Orgulhoso possuidor de um bilhete para 3 dias, eu fui para à Expo quase por acaso. Uns amigos da minha mãe iam até lá e acabaram por me levar, mal eu sabia a fantástica experiência que ia viver. Mal cheguei, deparei-me logo com uma viagem de metro: era a coisa mais fantástica que alguma vez tinha visto. Esta sensação obviamente só duraria cerca de 10 minutos, até entrar na gare do oriente e dar de caras com o Pavilhão Utopia, hoje conhecido como Pavilhão Atlântico. Sabem que, para um puto de 12 anos, tudo é passível de surpreender.
Foram 3 dias que me lembro como se fosse hoje. O pavilhão que mais me surpreendeu foi claramente o da Realidade Virtual, numa altura em que ainda devia pensar que ia ser advogado ou jogador do Benfica. Também me lembro das curtíssimas 4 horas de fila para entrar dentro do pavilhão, mas isso era apenas um pormenor, um sacrifício. O pavilhão era simplesmente espectacular, colocando o Oceanário, Futuro ou mesmo a Torre Vasco da Gama no patamar a que gosto de chamar carinhosamente "Meninos".
Outra coisa que me faz sempre relembrar a Expo é o passaporte que era usado para carimbar à saída de cada pavilhão: é aqui que entra o meu lado mais aldrabão. Eu tenho o passaporte todo carimbado completamente à pala de entrar nos pavilhões e ir directo à recepção para o tão ansiado carimbo. Olhando hoje para o passaporte, duvido mesmo muito que os pavilhões de Cuba, Moçambique ou Letónia fossem assim tão interessantes... Qual forasteiro, eu andava mesmo à caça do carimbo, actividade que era bastante comum nesse verão de 98. Era mesmo tudo por causa do carimbo.
Houve também várias desilusões, sendo a maior o facto de, eu, um orgulhoso norte-americano, ter ficado completamente movido pelo aborrecimento do pavilhão dos EUA e ter ficado fascinado pelo pavilhão... do Canadá. Soube a traição, mas os raios dos canadianos tinham uma cena mesmo muito à frente. A outra grande desilusão foi não ter ido ao pavilhão da Alemanha, de onde se dizia maravilhas e não tive a oportunidade de comprovar isso mesmo. Troco os meus carimbos de Jamaica, Bosnia-Herzegovina e Trinidad e Tobago pelo carimbo da Alemanha, interessados contactem-me.
Os 3 dias terminaram, mas felizmente a Expo não tinha acabado para mim. Voltaria por mais 2 situações, no último sábado, onde obriguei a minha mãe a atingir um novo record marcha, tal era a velocidade em que eu andava à caça do carimbo, e no último dia, quarta-feira, onde assisti ao melhor fogo de artifício da história. Agora não me lembro se houve o espectáculo habitual, junto ao Oceanário, que era o Aquamatrix (ok, já sabem onde os irmãos Wachowski foram buscar a ideia), ou se partiram directamente para o fogo. Só sei que foi a coisa mais brutal que tinha visto até então.
A Expo 98 foi claramente um acontecimento que me marcou imenso, tendo o tal passaporte guardado religiosamente, tal como todos os bilhetes que comprei dentro do recinto, desde o bilhete para a Torre Vasco da Gama, Teleférico e até acho que anda para aqui o recibo duma baguete que comi lá. Poderia continuar a falar de muito mais sobre a Expo, mas para isso precisava da noite toda.
Cenas do nosso tempo.